CHEGADAS E PARTIDAS
É como se estivéssemos voltando de uma longa viagem e desembarcando no aeroporto da vida, para um recomeço entre pessoas muito queridas de outros tempos. E nesse emocionante reencontro, logo sentimos uma energia muito positiva vibrando no calor do abraço que nos acolhem, comemorando afetivamente a nossa chegada.
Quando sentimos algum desconforto, basta chorar e a mamãe logo entende o que estamos dizendo e o devido cuidado imediatamente é tomado, porque o bem-estar de um bebê torna-se a prioridade de uma família unida pelo amor.
Quando começamos a nos comunicar, cada gesto nosso é comemorado, aplaudido e reconhecido como algo muito esperado pela nossa torcida familiar.
Entendendo como as relações humanas funcionam, tomamos confiança e estabelecemos um vínculo afetivo com aqueles que estão mais presentes em nossa vida diariamente. As primeiras palavras que pronunciamos não são bem claras.
Ainda cedo, descobrimos que aqueles adultos fortes que demonstram tanta superioridade diante da nossa fragilidade, na verdade, não são tudo aquilo que eles aparentam. Pois, começamos a assimilar que essas pessoas podem ser manipuladas psicologicamente por nós e, assim, criamos os jogos emocionais em que passamos a exercer poder sobre essas pessoas e, do alto de sua suposta maturidade, os adultos começam a reconhecer em nós o seu próprio passado em nosso comportamento imaturo.
Atravessamos a fase da dependência e começamos a caminhar com as nossas próprias pernas. E, justamente quando nós descobrimos que somos livres, as pessoas que a nossa inocência enxergava como protetoras, agora começam a se revelar e a impor regras para nós.
Não entendemos mais como devemos interagir com os adultos, porque antes eles nos diziam sim, para tudo. Mas, agora nos dizem não, para qualquer coisa que desejamos. E em nossa cabeça fica uma pergunta dramática repetida: Por que eles não me amam mais como antes?
Sem uma resposta concreta, o nosso castelo de ilusões desmorona e assim temos de encarar a nova realidade e crescer com os desafios. A vida também começa a perder a graça quando, ainda pequeno, recebemos a notícia de que alguém muito querido partiu dessa para a outra morada - sem pelo menos nos dizer quando vai voltar.
As dúvidas enchem a nossa cabeça de indagações, nos assombrando e, assim, passamos a procurar respostas para tudo que nos perturba. Porém, alguns adultos continuam mentindo e nos levando cada vez mais para dentro de um mundo ilusório e fantasioso.
Entramos na fase da adolescência e a nossa cabeça começa a criar solução para tudo, e é nesse momento que a nossa personalidade é formada e no qual achamos que o mundo só ficará interessante se as pessoas embarcarem em nossas ideias revolucionárias. Queremos transformar o jeito de pensar dos nossos pais porque achamos que a experiência dos mais velhos está sempre ultrapassada e que só uma coisa está certa nessa sociedade: a nossa vontade.
Queremos ensinar os nossos professores a ver aquilo que eles tentam nos ensinar por uma visão mais atualizada. Somos advertidos e, às vezes, até punidos rigorosamente por toda a clientela.
Sentindo o efeito das nossas atitudes na própria pele, logo entendemos que as coisas não funcionam apenas do nosso jeito e que a nossa razão se perde quando desrespeitamos o direito de igualdade dos outros. Atingimos a maturidade biológica e novamente somos convidados a nos enquadrar nas regras da sociedade.
Finalmente, chega à velhice, cansada de tanto bater contra o muro e marcada pelas cicatrizes dos seus próprios passos errados. Porém, agora carregada de experiência, plena de maturidade e conselheira dos jovens. Já não temos mais vontade de aventura e condenamos a pressa daqueles que assim como nós, nos tempos de rédeas curtas, avançam nos prazeres da vida antes da hora.
Mesmo sem enxergar direito, agora achamos que tudo é imoral e que o tempo perfeito se foi quando a nossa aparência ainda era jovial. Passamos a desaprovar o comportamento da juventude atual.
Quando regressamos para a outra morada, levamos conosco a certeza de que não resta outra saída na vida, a não ser crescer. Reconhecemos, então, que para concretizarmos as grandes transformações que tanto desejamos, devemos começar partindo do mais íntimo de nós, confiando no prosseguir evolutivo da vida, que só promove esse crescimento quando entendemos que, fazendo a parte que nos cabe, tudo se ajusta para nos fazer chegar ao mais alto nível de consciência.
Onde o clarão da sabedoria abre a nossa visão para nos proporcionar a revelação daquilo que mais buscamos...a luz de nossa essência. Olhando para os vícios e recaídas dos outros, chegamos à conclusão de que ninguém muda, mesmo por alguém. E que a boa convivência com as diferenças nos leva a consciência de que só venceremos a ignorância do mundo, quando vencermos a nossa própria escuridão........dentro de nós mesmos.
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